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Coríntios 15:44-50, Mateus 6:33 e 1 Tessalonicenses 1:2-3.
“Entre
as dimensões de nossa vida está a espiritual. Fomos criados por Deus e para
Deus, que é Espírito, podendo nos relacionar com Ele espiritualmente.
Espiritualidade consiste, basicamente, de nossa participação na realidade
de Deus.
Contudo,
é fundamental saber diferenciar entre espiritualidade e religiosidade. Esta
nasce de um conceito; aquela, de um encontro. Explico: a religiosidade
humana tem sua origem na ideia de Deus, que por sua vez resulta de uma
suposição a partir da observação do mundo criado – deve haver alguém por trás
de tudo isso! Assim, a religiosidade admite a existência do divino e de um
poder ilimitado, como responsáveis pelo surgimento de todas as coisas. Mas não
podendo saber nada de seu caráter ou propósito, limita-se a desenvolver modos
de agradar o divino, para que não use seu poder contra a humanidade, senão a
favor dela. Como definiu o sociólogo venezuelano Otto Maduro, a religião é um
“conjunto de discursos e práticas, referente a seres anteriores ou superiores
ao ambiente natural e social, em relação aos quais os fiéis desenvolvem uma
relação de dependência e obrigação”.
Ocorre
que a raiz da religiosidade é dupla: de um lado, a ideia de Deus; do outro, um
distanciamento absoluto em relação a Ele. E se a raiz da religiosidade é
humana, sua força é o medo, pois que segurança pode ter quem crê numa
divindade cuja existência coloca em risco tudo mais? A resposta da fé,
portanto, ao medo que gera a religião é a espiritualidade que nasce de um
encontro pessoal com Deus, um relacionamento com Ele. Espiritualidade não é um
sistema oriundo de nossas pressuposições sobre Deus, mas uma descoberta sobre
seu caráter e vontade a partir de nossa experiência com Ele. Se religião é
fruto de suposição, espiritualidade o é de revelação. Uma pessoa religiosa
crê que Deus existe e que deve satisfazê-lo, para que Ele, por sua vez,
viabilize sua vida; uma pessoa espiritual crê que Deus existe e que
satisfaz, por si mesmo, todos os que o buscam. Uma pessoa religiosa vive em
função de suas necessidades e obrigações para com a divindade; uma pessoa
espiritual vive para Deus e descansa na certeza de seu cuidado amoroso. A
palavra chave da religião é mérito; a palavra chave da espiritualidade é graça!
Na
religiosidade o medo move o fiel; na espiritualidade, o amor. João escreveu que
no amor não existe medo, pois o verdadeiro amor lança fora todo o medo.
Aliás, João também escreveu que Deus é amor. Isso é descoberta da
espiritualidade; a religião não pode ir além dos conceitos de poder e juízo.
Talvez, por isso a religiosidade gere tanto peso, rancor e intolerância,
enquanto a espiritualidade gere leveza, perdão e conciliação.
Por
tudo isto, a espiritualidade que se distingue de religiosidade resolve outros
conflitos. Primeiro, entre transcendência e alienação: a espiritualidade é
transcendente, pois participa da realidade de Deus e clama para que sua
vontade seja feita na terra, assim como é feita nos céus; a religião anseia
pelo céu enquanto torce para ver a terra ser destruída no fogo. Segundo, entre
fé e superstição: a religiosidade é supersticiosa e procura formas de ajudar a
fé a se impor sobre o divino, de modo a manipulá-lo; a espiritualidade é
confiante e apta para aceitar, inclusive, o “não” de Deus, na certeza de que
Ele tem sempre o melhor. Terceiro, entre justiça e moralidade: a
religiosidade tem como principal objetivo o estabelecimento de uma moralidade
padronizada; a espiritualidade vê na moralidade uma estratégia baseada em
testemunho e autoridade pessoais com vistas ao estabelecimento da justiça
(buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e Sua justiça!). Quarto, entre amor
e afeto: a religião investe em afetos, pois sugere relacionamentos apenas entre
iguais; a espiritualidade anda em amor, pois relaciona-se com o diferente
na certeza de que fomos criados, todos, à imagem e semelhança de Deus. E
isso é só o começo dessa dimensão…”
Mensagem pregada pelo pastor Marcelo
Gomes no culto das mulheres da IPI Maringá
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